Noite à Luz de Lampião
- Roberta Güttler de Oliveira
- 17 de out. de 2018
- 1 min de leitura
Há anos, por vezes, o mesmo pesadelo o assombrava. Fruto do avistar naquela terrível noite. Nada poderia livrar de sua mente a imagem horrível que o fez ter o maior medo de sua vida.
O pesadelo começou aos 5 anos de idade, mas durou uma vida inteira. Passou por tantas coisas, nasceu pobre no interior do sertão nordestino. Morava com sua família em casinha de barro e teto de palha. Cercas de paus torcidos entrelaçados entre si. Sem água, sem luz, sem comida. Década de 30. Pele seca rachada do sol, assim como o solo que sempre pisara.
Apesar da pobreza, sempre teve inteligência. Serviu o exército, foi mandado ao sul do país. Cidade de cultura alemã. Casou, formou família. Aos padrões sociais da cidade, era uma família esquisita. Pai moreno, mãe clara. Dois filhos loiros de olhos claros, três morenos de olhos escuros.
Superaram falatórios. Mas nunca superou o trauma de infância. Vieram os netos. A eles, certa vez, revelou o motivo de seus pesadelos. Aos cinco anos de idade, oficiais da polícia passavam pelo seu vilarejo fazendo barulho, chamando a todos. Correu para a única porta da casa, junto de sua família. O policial, montado no cavalo com uma lata grande no lombo do animal, parou bem em frente de meu avô e puxou a cabeça cortada de um homem, mostrando-a como um troféu.
Era Lampião.

Comments