Dia de Visita
- Léo Borba
- 17 de out. de 2018
- 2 min de leitura
Toc. Toc. Toc. O Canário da Telha bicava a vidraça. De pescoço espichado, olhava a janel

a ainda fechada. “Bichinho sabido!”- exclamou a mulher. Levantou-se da cadeira e, no criado mudo, pegou o potinho de sementes. TO! TOC! -Sim. Sim! Já vou!- respondeu com voz suave e risonha. Derramou algumas sementes no pires, colocou na mesinha e abriu a janela. O pássaro entrou. Junto com ele, o aroma da manhã; os cheiros de flor, folhas e de terra molhada. Sentada na beira da cama, a mulher observa. Uma leve brisa lhe soprou os cabelos brancos e bem penteados. -E então, Peito Amarelo? Quando vais trazer tua companheira?
O Pássaro interrompe as bicadas no pires e a observa, de pescoço espichado. Depois, volta a comer. “Quando chegou aqui era um filhote caído do ninho”, pensa, enquanto o canário come. Desde então, ele vem à janela. Vem para comer e ouvir a mulher que o fez crescer, voar... Viver! -Acho que já te contei Peito Amarelo, que me criei entre árvores e pássaros. – Falava com calma, sem pressa. – Depois, me casei e fui morar na cidade. Três filhos e uma viuvez depois, vim pra cá.
O Pássaro volta a comer. Sim, ela já havia contado esta parte da história. E também a parte que, por sua própria iniciativa, decidira morar aqui. - Sim Peito Amarelo; assim não causo nenhum transtorno. Os filhos são muito ocupados. Cada um com sua vida. Quando tiverem tempo, vêem me visitar. O canário dá-se por satisfeito. Pula da mesa para a cama, ao lado da mulher. Com uma das mãos, ela acaricia-lhe a cabeça. – Tuas penas estão brilhosas, rapaz. Está na hora de encontrar uma namorada. A primavera logo termina!!! O pássaro voa, pousa na soleira da janela e olha a mulher. Com o sorriso de todos os dias, se despede com um aceno.
- Bom Dia! – fala a funcionária do asilo. – Hoje é dia de visitas! -Sim, eu sei. Obrigado! – responde a mulher, com um sorriso, olhando para a janela. No silêncio do auto-asilo, pega o livro de Neruda:
“Acolhedora como um velho caminho. Te povoa ecos e vozes nostálgicas. eu despertei e às vezes emigram e fogem pássaros que dormiam em tua alma.”
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