Drogaria
- Julia Pace
- 25 de fev. de 2016
- 1 min de leitura

Fim de tarde na grande São Paulo. As pessoas ficam perdidas entre monstruosos arranha-céus e transportes barulhentos. O senhor, dono dum botequim fim de carreira, lá pros cantos da cidade, recebe a recarga da mercadoria e dá um trocado aos funcionários que descarregam o caminhão. Então, abre as portas do bar, pronto para lucrar com as almas vazias de seus clientes: homens barbudos e tristes que se embriagam de barris e mais barris de cerveja, na esperança de afogar suas decepções até não conseguirem mais vê-las. “Senhor, vê mais uma ‘latinha’ que hoje eu perdi o emprego” dizia todos os dias um velho, e depois dava uma risada como quem aceita o fracasso. O velho havia perdido o tal emprego há mais de um ano devido à idade, e, desde então, vivia de aposentadoria, cuja só era suficiente para pagar suas cervejas, que por sua vez, o consolavam por viver de aposentadoria. E, assim, o senhor estava mais acostumado que um terapeuta a observar corações partidos, casamentos arruinados, empregos perdidos, filhos viciados e lentos suicídios. Via as pessoas se matando lentamente e lhes vendia o veneno. Garrafas e cigarros eram os ombros amigos que os confortavam. Talvez não só por seu efeito natural, mas por fazer os desgraçados se sentirem dignos de suas frustrações e satisfeitos com sua autodestruição, castigo pelo falhanço. Depois, quando o ultimo termina seu copo , o senhor fecha a drogaria; muda a placa da porta de “aberto” para “fechado”, tranca as portas e recolhe as garrafas. Então, senta numa mesa. Agora é a sua vez de lastimar.
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