Zé Virado - A História - Parte III
- Paulo Bossle
- 10 de out. de 2015
- 3 min de leitura

Recompondo-se lentamente e tomando seu café, Zé Virado reiniciou a história.
A moça que dizia ser minha irmã, começou a contar o acontecido de tráz prá frente:
“Meu querido irmão! Já deves ter escutado falar que quando nossos pais eram vivos, uma bruxa vivia rondando pedindo-lhes que tivessem mais um fillho. Eles queriam muito mas não suportavam a ideia de que a bruxa pudesse roubar a criança. Viviam evitando o assunto, mas um dia, mamãe notou que estava grávida. Foi uma choradeira só! Muito de alegria e muito de tristeza só de pensar que a bruxa poderia levar a criança. Combinaram de manter segredo. Tentariam ganhar a criança sem que a bruxa percebesse. Nossa mãe foi escondida para a casa da cunhada na Lagoa da Conceição para ter a criança. O que não sabiam é que na Lagoa vivia uma irmã da bruxa que passava de casa em casa xeretando a vida dos outros e sem querer querendo, descobriu a gravidez e avisou sua irmã. Foi só o tempo dela dar a luz a uma menina e a malvada lá estava. Aproveitando-se da fraqueza do parto recente, roubou a criança. Já estava na vassoura com a menina, quando uma velha parteira, que também era benzedeira, chegou na hora do acontecido. A benzedeira, que era dada a fazer encantamentos, pediu pros seus santos que não deixassem a bruxa levar aquele anjinho inocente. A bruxasem entender o que estava acontecendo, foi pega de surpresa pela reza da benzedeira e viu a criança desaparecer de seus braços. Desesperada, gritava palavrões e então rogou uma praga: "Se esta criança não for minha, de mais ninguém será, Aconteça o que acontecer, ninguém mais a verá. Que ela desapareça e nunca mais cresça!"
A benzedeira, que não era de levar desaforo pra casa, ainda mais de uma coisa ruim,não podendo desfazer a praga, não perdeu tempo e disse:
“Esta criança nasceu pelas minhas mãos, Não vai ser uma bruxa maldita que isso vai mudar, Por isso esta praga eu vou modificar, Que esta criança cresça no fundo do mar, Onde ninguém pode nem imaginar, O encantamento vai desaparecer quando achar seu irmão, E ele, numa prova de coragem,chamar três vezes Conceição”.
Tonto com a história, olhei para a moça e perguntei: Por que só agora me procuraste? A aparição, com o sorriso mais doce do mundo olhou pra mim e disse: - Meu irmão, não sabes como foi difícil te encontrar. Durante anos a fio busquei por ti. Não sabia como eras, quantos anos tinha e tampouco se aqui moravas. Não sabia nem teu nome. Como só podia sair nas noites de Lua cheia sem que ninguém me visse, numa dessas noites vi um homem bêbado deitado no chão e falando sozinho. Fiquei com pena daquela triste figura, que sonhava em voz alta e sentei-me ao seu lado. O bêbado,em seu delírio, falava o nome de uma mulher. Fiquei espantada e prestei mais atenção. Falou mais um pouco e percebi então, que falava o nome de nossa mãe e que poderia ser meu irmão. Quase morri de tanta felicidade, mas não podia te abraçar e nem falar contigo por conta do encanto. Cuidei de ti naquela noite e de muitas outras, até ter certeza que eras meu irmão. Chorando muito de felicidade, voltava sempre para meu canto onde tinha que cumprir a maldição.”
Zé Virado, pausando a história olhou para seus amigos mudos de espanto e continuou :
Foi aí que perguntei para a Aparição: Basta eu te chamar pelo nome três vezes que a praga acaba?
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