O Sussurro - Parte 3
- Roberta Güttler de Oliveira
- 18 de ago. de 2015
- 3 min de leitura
"O amor é transcendental aos planos."

No mesmo instante que seus pais souberam da notícia foi que Ana entendeu que estava morta. Informaram pelo telefone que um acidente grave aconteceu na estrada, ninguém sobreviveu.
Naquele momento, Ana ficou em choque. Suas náuseas ficaram mais fortes. Ela ainda estava perdida...mas entendia o que estava ocorrendo. Tentou novamente ter a atenção de seus pais, mas sem sucesso.
Não sabia o que fazer, não sabia pra onde ir..."Meu Deus, estou morta..." - era só o que pensava. Ficava desesperada ao ver o sofrimento que seus amados pais estavam passando...estavam ali, abraçados e chorando...completamente destruídos.
Lembrou de rezar...pediu ajuda. O jovem homem, com seus cabelos e barbas castanhos, apareceu na porta do quarto em que estavam. Dessa vez, usava vestimentas claras. Junto dele estavam os outros dois homens que ofereceram-lhes a carona. "Venha comigo, Ana..." - falou o homem com sua voz macia, sorriso e olhar iluminados, esticando seu braço e oferecendo-lhe a mão. "Fique tranquila, nossos amigos cuidarão de seus pais" - completou. Ana não hesitou em acompanhá-lo. Sabia que isto era o melhor a se fazer. Desde o início confiou naquela pessoa. Sentia-se protegida ao lado daquele homem.
Anos passaram-se e lá estava ela novamente, ao lado de seu querido protetor observando-os. Estava feliz. Finalmente teve autorização para visitá-los. Durante todo esse tempo pôde acompanhar de longe a trajetória de superação daqueles que um dia foram seus pais.
Eles estavam bem. Aprenderam a resignação...o segredo para acalmar seus corações. Passou a fase da dor...sentiam muita saudade, mas escolheram a felicidade para suas vidas.
"Ah, nossa Aninha era tão linda" - dizia a mãe. "Ela sempre foi mais apegada a você...viviam grudados." - continuava ela sorrindo para seu marido. Falava isso pois lembrava dos segredinhos que pai e filha guardavam.
"Ana era especial...desde pequena tinha um olhar profundo da vida...ela te amava muito." - completava o pai. Falava isso em referência a sensibilidade que Ana tinha pela vida e às pessoas desde criança.
A curiosidade da mãe em saber aquele segredo era enorme, mas nunca perguntou ao marido em respeito a filha...se era segredo, era segredo. O pai também nunca havia contado...pois achava que poderia deixar a esposa muito sensibilizada... Além do mais, sua esposa vivia falando que um dia todos se reencontrariam. Ele não acreditava nisso...se ela acreditava nessas coisas, então que perguntasse a própria filha quando tivesse a oportunidade.
Ana achava graça daquela situação. Cada um com seu jeito de superar suas dores. Cada um com suas crenças e ambos se apoiando e respeitando.
Dessa vez Ana teve autorização de não somente observá-los, mas também de tentar comunicação. Aproveitou que seu pai estava calmo lendo um livro. Chegou ao seu lado, aproximou-se de seu ouvido e, mais uma vez falou aquele segredo. Seu pai não escutou. Abraçou-o mesmo assim.
Sua mãe estava cuidando do jardim. Era uma manhã ensolarada de domingo. Ana observou-a com carinho como sempre fazia desde pequena. Sua mãe era tão concentrada em suas tarefas que não percebia o quanto sua filhinha a acompanhava. Lá entre seus cinco anos, Ana já sabia como a mãe iria colocar os ingredientes do feijão e do bolo de chocolate. Sabia como fazer um bordado de flores e como replantar uma orquídea...apenas observando sua mãe. Achava-a linda e delicada.
Chegou perto de sua mãe que estava agachada na floreira. As duas sentiram algo bom. Para sua mãe parecia que o tempo havia paralisado, apenas escutava os passarinhos cantando. Sentiu um manto de energia ao seu redor. Pôde sentir o abraço de sua filha...nunca havia sentido algo igual... conseguiu sentir o calor e o cheiro de perfume de camomila característicos de Ana. Ficou estática com a sensação de estar flutuando.
Ana aproximou-se do ouvido da mãe e sussurrou com sua voz macia: "Mãezinha, fala pro pai que ele continua casado com a mulher mais linda do mundo..." - Beijou sua mãe na face e foi embora.
Sua mãe sorriu de felicidade...queria muito acreditar que havia escutado sua filhinha falar em seu ouvido. Foi correndo falar ao marido o recado de Ana.
"Querido! Ana te mandou um recado, escutei sua voz no jardim" - falava ela agitada e mal sem acreditar. O marido ficou espantado. "Enlouqueceu!" - pensou ele. "Avisa o pai que ele continua casado com a mulher mais linda do mundo... era a voz dela, eu juro!"
Não era preciso mais jurar. O pai pôs-se a chorar, eram essas as palavras que Ana sempre dizia em seus sussurros.
Ana os observava achando graça e cheia de alegria em seu coração. "Valeu a pena ter guardado esse segredinho por todos esses anos..." - falou ao seu protetor, já retornando ao seu plano.
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