O Sussurro - Parte 2
- Roberta Güttler de Oliveira
- 17 de ago. de 2015
- 3 min de leitura

"O universo é atemporal."
Despediu-se de seus pais e entrou no ônibus. Também iria sentir saudades, mas estava feliz com sua nova vida, novos amigos e com os estudos. Estava realizada.
Ainda não havia se acostumado com as doze horas de viagem que tinha que enfrentar. Levou um livro pra se distrair...chegaria em casa perto da meia noite.
Como o trajeto era longo, iria tentar, primeiramente, se distrair com a paisagem. Assim que ficasse entediada, iniciaria a leitura de seu romance.
Horas passaram e já estava com os olhos grudados no livro. Em uma das paradas do ônibus, um homem jovem pediu licença e sentou-se ao seu lado.
"Fique a vontade" - disse a garota sorrindo simpática. Ao olhar o jovem homem, reparou que estava todo de preto, tinha barba e cabelos castanhos e seus olhos verdes tornavam seu olhar misterioso. Ele sorriu e agradeceu.
Gostou dele. Ficou feliz que não teria que sentar-se junto de alguém antipático, espaçoso ou fedido durante o restante da viagem.
Ana era uma garota muito querida por todos. Gostava de ser atenciosa e conversar. Adorava fazer novas amizades. Sua mãe sempre dizia que puxara o carisma do pai. Por onde passava deixava sorrisos.
Começaram a conversar e o jovem percebeu que Ana não parecia muito bem. Ela disse que o balanço do ônibus a deixava nauseada. Ele a lembrou de seu remédio para enjôo que carregava na bolsa e lhe ofereceu água. Ana pegou o remédio e aceitou a água. Minutos depois adormeceu.
Tempos após viu-se num restaurante da estrada. Reconheceu alguns passageiros do seu ônibus no mesmo local. Estava um pouco perdida, achou que era efeito do remédio. Tentou voltar pro ônibus mas não o encontrou. Já estava escuro e não sabia quanto tempo havia adormecido.
Começou a ficar desesperada. Havia perdido o ônibus e estava sem seus pertences pessoais. O jovem homem apareceu novamente e ela se tranquilizou por não estar sozinha. Ele informou que o coletivo partiu sem eles e que já havia conseguido uma carona para retornar à cidade de seus pais.
Ana ficou indecisa. Resolveu tentar contato através de um telefone público, mas não obteve sucesso. Não havia sinal de linha. Resolveu aceitar a sugestão de pegar a carona com os desconhecidos.
Sentaram-se juntos no banco de trás do carro. A frente mais dois homens. Ana sentia-se ainda muito enjoada, cansada, fraca...além disso, não parava de pensar em seus pais. Estava preocupada com seus pertences, quando e como chegaria em casa.
Na estrada de retorno avistaram um rebuliço. Havia acontecido um grave acidente envolvendo vários veículos. Muito trânsito, luzes de ambulâncias, postes caídos. O enjoô de Ana havia aumentado...mas ela não queria tomar mais um remédio. "Tome mais um pouco dessa água...você se sentirá melhor" - ofereceu o homem. Ela aceitou e um sono arrebatador a envolveu mais uma vez.
"Ana... Ana... chegamos a sua casa..." - chamou o homem delicadamente. Acordou assustada, ainda muito indisposta. Olhou o relógio. Eram duas horas da madrugada. Mal se despediu...entrou em casa e não viu movimentos. Foi até o quarto dos pais e viu que estavam dormindo. Tentou acordá-los, mas não conseguiu...deveriam estar muito cansados.
Pensou em ir tomar um banho quando o telefone tocou. Seus pais levantaram assustados, mal viram a filha na penumbra do quarto. Estavam tão eufóricos que não perceberam a presença dela.
Seu pai atendeu. Ficou estático e branco. Não falou nada, apenas colocou o telefone no gancho. Olhou pra sua esposa e chorou. A mãe falou desesperada, aos prantos: "Eu sabia que algo tinha acontecido...minha menina..."
.....A continuar.....
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