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O Sussurro -Parte 1

  • Roberta Güttler de Oliveira
  • 17 de ago. de 2015
  • 2 min de leitura

O que será que aquela menininha dizia ao pai? Era o quê sua mãe pensava intrigada. Sempre observava o quanto aqueles dois eram cúmplices e cheios de segredinhos.

Amava aquelas duas pessoas. Seu marido, companheiro de anos e sua filhinha...Quantas vezes via-os cochichando...a menina pedia para o pai se curvar para que, nas pontas de seus pés, pudesse alcançar sua boca ao ouvido dele. Com sua mão gordinha em forma de conchinha tapava seus lábios e contava algum segredo ao pai.

Os dois se olhavam e sorriam. Era o momento deles. A mãe não ficava enciumada, achava bonitinho, mas tinha curiosidade em saber o que compartilhavam. Seriam sempre as mesmas palavras? Os sussurros variavam? Seriam vários segredos?

"Ah, o quê vocês dois estão de segredinhos aí?" Perguntava a mãe com ar carinhoso, mas se fazendo de desconfiada.

A menininha fazia um sorriso maroto, encolhia os ombrinhos e juntava as mãozinhas: "ah, mamãe...você não pode saber...é segredo..." - saía correndo e rindo, escapando das palmadinhas de brincadeira de sua mãe.

Depois de muitas vezes, a mãe percebeu que era tudo apenas uma brincadeira deles, dos três. Achou, então, que não existia segredinho algum...era apenas para pegar no pé dela...sua filha achava uma diversão.

Os anos foram passando e as brincadeiras entre pais e filha diminuindo. A menina cresceu. Agora sim, tinha seus segredos de verdade...não com seu pai, mas com suas amigas. Mãe e filha eram companheiras, mas a mãe imaginava que a menina não contava tudo a ela.

Aos dezoito anos a menina passou no vestibular de uma universidade de outro estado. Todo processo de mudança foi dolorido para a mãe. Iria se separar pela primeira vez de sua filhinha. Com os corações apertados, deixaram a filha no apartamento alugado e foram pra rodoviária pegar o ônibus de volta a sua cidade. Iriam vê-la apenas seis meses depois, ao término do primeiro semestre da faculdade.

A primeira coisa que a filha fez ao descer do ônibus, no primeiro reencontro de seus pais, foi abraçá-los bem forte como se todo aquele abraço pudesse preencher o vazio que aquela saudade de meses fazia ao seu coração.

Durante o abraço, a menina, depois de anos, cochichou ao ouvido do pai. Dessa vez seu pai não precisou se curvar e sua mão não era mais gorduchinha. Eles se olharam e sorriram. O pai ficou com os olhos marejados...

A mãe, naquele momento, ficou enciumada. Fingiu que não viu a cena. Ficou desnorteada porque não gostou de si mesma ao sentir ciúmes, não gostou de ficar desconfiada. "Eles realmente tinham algum segredo esses anos todos?" - batutava ela com seu pensamento.

O ciúme foi momentâneo...passou. Mas a mãe às vezes se pegava pensando no que será que sua filha falou ao pai naquele dia...e nas vezes quando era pequenina.

As férias acabaram e a garota teve que subir no ônibus e retornar à cidade de seus estudos. "Me liga quando chegar!" - pediu a mãe com o coração doído...novamente, só poderia reencontrar a filha seis meses a frente.

Horas passaram-se...e a filha nunca ligou...

.....A continuar.....


 
 
 

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