Cinema
- Priscila Pfau
- 17 de ago. de 2015
- 2 min de leitura

Almoçei com meus avós. Depois do almoço a conversa deles foi sobre cinema. Não necessariamente sobre os filmes, mas sobre o cinema, o espaço, o lugar. Eles falaram sobre isso por mais de meia hora, ainda a mesa. Quando eram crianças e jovens, durante toda a semana eles esperavam para ir ao cinema. Descreveram a sensação de ir ao cinema, a poltrona, os preços das entradas, o primeiro cinema com ar condicionado. Era um programa especial, tinha glamour. Hoje ainda é um programa muito bacana, mas com certeza a palavra “cinema” naquela época, tinha outro sabor. Minha avó disse que quando ela passou uma temporada na casa de uma irmã, em São Paulo, havia um pianista na sessão de sábado, antes do filme. Quando ele estava terminando de tocar, as luzes diminuíam, as cortinas se abriam, e começava a sessão. Passavam três filmes: uma espécie de notícias da semana em favor do governo da época, um filme nacional (era lei, segundo eles) e só então o filme que estava em cartaz. Era lugar de encontrar amigos, lugar de encontrar a menina, lugar de paquerar de longe e lugar para sonhar. Arrisco dizer que meu avô, é o maior fã do mundo do filme ...E o Vento Levou. Ele já perdeu as contas de quantas vezes viu. Hoje, ele descreveu a odisséia que foi assistir o filme pela primeira vez. Ele morava no Rio de Janeiro, tinha 12 anos, e tentou entrar no cinema, mas o filme era para maiores de 14 anos então não conseguiu. O filme era trazido ao Brasil de tempos em tempos, talvez uma vez por ano. Segundo ele, havia um pequeno anúncio no jornal quando isso acontecia. Ele esperava o anúncio ansiosamente. Um dia, lá estava o anúncio, mais ou menos dois anos depois do lançamento do filme no Brasil. Ele agora, com 14 anos, poderia entrar no cinema. Sabor de vitória. E então ele me descreveu a cena em que Scarlett O´Hara estava com fome, e cavou no chão uma raiz, talvez uma batata e tentou comê-la crua. Em seguida, embaixo da árvore ela se fez a promessa de nunca mais passar fome. Quem viu o filme sabe o quanto é mesmo linda esta cena. Juro que ele, descrevendo esta cena, entrou de alguma forma no filme, falou com veemência e acredito que os olhos se encheram de água. Lindo de ver como uma época, um filme, o cinema podem trazer a tona uma emoção tão forte. Muito bom conversar com nossos avós, deixá-los nos mostrar o mundo deles, as pequenas coisas, as grandes sensações.
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