A Moça sem Cara
- Clarissa Peixoto
- 17 de ago. de 2015
- 1 min de leitura

A moça sem cara se torna matéria no meu abstrato. Não está nas ruas, não foi à praia domingo a tarde. Essa moça que não está nos bares nem nas fumaças. Abstrata, nunca a fotografei ou sequer me despedi. Essa moça para quem não peço perdão, mas que me invade como um solo de guitarra, como um conto triste de personagem sem cara, tão real quanto as mãos que o teceram. A moça sem cara gargalha alto, chora no ouvido, tem de mim tudo, nunca me leva nada.
A moça sem olhos e sem boca faz barulho e faz chover. Mas, não é capaz de suportar na pele ou no peito a dor do desamor. A moça sem cara não sabe que amores vão e vem e que por isso existem os poetas. Essa moça sem cara, sem cor, essa moça é só cheiro, soluço e calor. A moça sem cara que vive aqui, perambulando pelo quarto e por essa melancolia. A moça que abraça essa solidão de nós dois e adormece em prece um corpo descrente. A moça que nunca vi, sim, essa moça que se sabe a minha lacuna, é a moça sem cara que nunca vou ser.
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