Sonho/Loucura
- Jonny Santos
- 8 de jun. de 2015
- 2 min de leitura

Hoje em um dos meus devaneios de minha barulhenta mente lembrei de uma senhora que frequentava a mesma sala que eu quando estudava para o vestibular público, os famigerados "cursinhos".
Em uma turma constituída por 99% de jovens abaixo dos 30 anos, quem passa dessa idade ao abrir a boca sempre será uma inconveniência, não é verdade? Por favor, não banque o puritano, você também tem seus preconceitos, mesmo que lute contra eles. Até porque, os jovens não costumam abrir a boca na sala de aula pra questionar algo dito pelo professor, eles preferem ficar no celular, não é mesmo?
Essa senhora sempre fazia as perguntas mais descabidas e fora de hora possível, pois normalmente ela perguntava exatamente o que professor acabara de explicar, ela não entendia, e isso era irritante para as pessoas ao redor, o aprendizado era prejudicado porque o professor precisava repetir tudo que tinha sido dito.
No decorrer do curso isso se tornava cada vez mais irritante, para mim e para todos, naturalmente.
Porém, em uma aula de sábado, haveria um "simuladão" do vestibular, já próximo ao desafio final, nesse dia descobri por comentários na sala que ela iria tentar medicina, eu fiquei abismado e ri dessa loucura, você não riria? Como alguém naquela idade estaria tentando medicina na federal? E não parou por aí, entre risos debochados me disseram que era a OITAVA VEZ que ela tentava, não era a primeira vez, ela estava naquela sala a 4 anos tendo as mesma aulas, deixando seus filhos em casa e seu marido.
Nesse momento eu fiquei muito mal ao participar daquela roda de conversa, senti nojo de mim por rir daquela mulher, me dando conta do quanto era ridículo rir de alguém com tanta determinação na busca de um sonho, coisa que eu jamais na vida seria capaz. Cheguei a conclusão que muitos ali não riam dela por era ser velha, mas sim porque ela era inconveniente, ela era inconveniente ao tentar aprender, inconveniente a lutar por um sonho, inconveniente por nunca desistir, ela era inconveniente por ser capaz de algo que jamais seriamos capaz de fazer, e todos sabiam disso, conscientemente ou inconscientemente.
Foi então que eu percebi, que não era pena, era inveja. Ela não era merecedora de pena ou escárnio, deve-se sentir pena de quem fica em casa na frente da TV vendo a vida passar diante seus olhos e não faz nada por seus sonhos.
Ela era aquele 1% da sala, aquele porcento que nunca desiste dos seus sonhos mesmo quando são tachados de loucos, aquele porcento que de vez em quando muda o mundo, de tempos em tempos.
E se você me perguntar se ela passou no vestibular pra medicina, eu nunca saberei, pois nem seu nome eu recordo, como não sabia nada sobre ela até aquele sábado, e nem sobre mim. Mas desejo do fundo do coração que ela esteja hoje com seu jaleco em algum lugar por aí, realizando um sonho.
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