Brigite Montfort

Minha adolescência sem dúvida foi repleta de mundos imaginários, através dos inúmeros livros que passavam pelas minhas mãos. Minha avó certamente foi a maior incentivadora, pois em sua casa tinha uma outra casa. Uma casa só de livros. Livros, enciclopédias e uma infinidade de revistas moravam naquela casa. Os títulos mais comuns de revistas era o Cruzeiro e Grande Hotel, que me lembro. Em meio a tudo isso, tinha uns livros de bolsos espalhados com os mais variados títulos. No auge de minha adolescência, um livro de bolso particularmente chamou-me a atenção, quase como um raio explodindo subitamente sobre minha cabeça. Na capa desse livro de bolso aparecia uma morena de cabelos bem negros, corpo escultural, lábios carnudos e perfeitos e, e fantásticos olhos azuis me fitando e me hipnotizando instantaneamente. Aqueles olhos me perseguiam, por mais que eu me afastasse. Ficavam me olhando de uma maneira tão intensa, que até hoje, os olhos exercem um fascínio todo especial em mim. Peguei um dos livros e comecei a ler. Minha volúpia somente terminou na última página. Li de um fôlego só. Foi paixão à primeira leitura. Não me lembro do título, mas lembro do nome da personagem principal : Brigite Montfort. Depois disso e até uma determinada idade, meus olhos sempre procuraram, em cada uma das pessoas, a cor de seus olhos e o que eles provavelmente olhavam. Minha imaginação corria solta ao pensar o que aqueles olhos maravilhosos já viram e o que veriam. Desenho compulsivamente olhos perfeitos, bocas perfeitas! Com o passar dos anos, meu olhar ficou sorrateiro, com medo de ser mal interpretado. Mas mesmo assim, procuro nas pessoas aquele olhar que possa me levar para mundos imaginários. Imaginem minha angústia quando não consigo ver os olhos de alguém que gostaria de ver. É sufocante e desesperador. Os olhos são reveladores e refletem a alma. Acho que no fundo quero que minha alma seja lida.