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Gaze com Geléia

  • Bonifácio Silva
  • 9 de abr. de 2015
  • 2 min de leitura

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. Arteira como uma criança, ela sempre me deixa a par de suas estripulias que apronta com seus familiares e amigos. Dona de um sorriso sereno, de óculos estreitos, esbelta e com uma calma admirável para contar seus feitos que, com certeza absoluta é a sua maior característica, essa senhora sempre me traz novidades. . . Queridíssima pelos vizinhos e sempre cercada nos eventos familiares, que, certamente tal atração se dá pelo seu jeito jovial, travesso, alegre e superior no quesito bondade que lhe pertence. Depois que a conheci bem, suas vindas à minha loja já não são mais consideradas simplesmente como compras, e sim, visitas. . . Certa vez, numa dessas visitas, a lembrança de um ocorrido lhe veio à memória e, com uma ansiedade que era mais do que transbordante em me contar o caso, foi logo destravando a prosa. Com uma mão em forma de conchinha e a outra a gesticular, me disse: “-Boni, coloquei um pouco de geleia de morango nessa minha mão, enrolei um pedaço de gaze nela e logo desci lá na casa da minha filha, que morava bem próximo, gemendo e com ares de muita dor!” Confesso que é bem difícil passar ao texto o entusiasmo da Dona ao me desenhar a cena. Contou-me em sons de muitas risadas que a filha ora colocava a mão na cabeça, ora na testa, corria pra rua, voltava abanando os braços, sempre como alguém muito angustiado a pedir ajuda, porém, sem saber o que fazer. A satisfação dela ao descrever o desespero da filha era quase que diabólico, as risadas lhe escorriam ao rosto somente pelo fato de lembrar-se da cena, deixando-me a imaginar o quão hilário teria sido no momento. . . Noutro dia, com a loja cheia de clientes e alguns vendedores, os quais eu dispensava atenção à medida do possível, ouço o telefone. No outro lado da linha a mulher com um sotaque germânico, diga-se de passagem, muito bem simulado, iniciou a conversa de forma esbravejada, inconformada de eu ter feito algo tão feio. Condenava-me da seguinte forma, a alemã: -“Como o senhor permite que eu vá à sua loja e traga para minha casa um pão estragado? Isso não se faz! E agora, como eu vou fazer?”. . . Assustado e, mesmo que eu tivesse a absoluta certeza que os pães que eu mesmo tinha exposto na gôndola naquele dia estavam em perfeita ordem, admiti ao telefone que talvez eu tivesse falhado na hora de revisar as datas de validade dos mesmos. Confesso que fiquei nervoso com tamanha braveza e, ao reparar as pessoas ao balcão, o psicológico parecia-me dizer que estavam sabendo o que eu ouvia e também já me condenavam. . . Não se contendo aos meus tropeços na frase de argumentação, a senhora alemã muda a fala, interrompe o sotaque me dizendo a frase seguida de risadas: “- Boni, sou eu! É tudo mentira! Hoje é 1º de abril. . Bom, com geleia, gaze e pão estragado, ou seja, independente de qual for o próximo tema que essa sapeca resolva tentar pregar na gente no dia da mentira, eu e a filha dela agora sabemos que precisamos cuidar mais no dia 1º de abril.


 
 
 

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